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14 de dezembro de 2008

A Vale que levar a bola embora

Quando eu era criança e já faz quarenta anos, costumava jogar futebol nas ruas e terrenos baldios nas proximidades de minha casa em São Paulo. Naquela ocasião sempre a bola era trazida por um dos garotos com um pouco de sorte por seus pais terem condições de comprarem aquela esfera mágica que ainda encanta meninos pelo mundo afora.
Sempre que um daqueles meninos era sacado do time, pegava a bola e a colocava embaixo de seus braços e resmungando saia em direção a sua casa, sob os olhares incrédulos dos demais garotos da vizinhança. A bola era dele e se ele não estivesse contente levava-a embora e ponto final. Hoje ao ler a entrevista publicada do presidente da empresa Vale do Rio Doce, senhor Roger Agnelli recordei dos tempos de infância nos campinhos de futebol. O nobre presidente da segunda maior empresa de mineração do mundo, estava feliz e nem se lembrava das leis trabalhistas até que certa crise no exterior o fez lembrar da nossa CLT e agora ele não quer mais brincar, quer sim, levar a bola para a sua mansão.
Enquanto os efeitos da globalização eram apenas no sentido de enriquecer os mais ricos e abastados, as grandes corporações ninguém nunca veio a público questionar direitos trabalhistas, muito ao contrário, passaram sim por cima de muitos deles em alguns países.
Agora que uma crise sem precedentes se avizinha o grande empresário não tem cartas no colete e resolve jogar contra os seus colaboradores, aqueles que fizeram dessa empresa a segunda maior do mundo, ou não é mais assim que as coisas funcionam na lógica capitalista. Na vitória somos nós e nas derrotas são eles que perderam? Estranho?
A Vale surfou desde a sua compra por preço abaixo do mercado diga=se de passagem, graças à privadoação tucana e nunca reclamou quando estava em altas ondas pelos mares tranqüilos em sua viagem de consolidação. Recentemente aumentou seu modesto capital em U$ 12, 5 (doze bilhões e quinhentos milhões de dólares), quase o valor que o governo americano se recusa a injetar no setor automobilístico americano.
Essa montanha de dinheiro não é suficiente para segurar a empresa em época de crise? Esse dinheiro bem aplicado não poderia manter a empresa em águas tranqüilas até a turbulência passar? Na opinião do presidente da Vale e de seus diretores, não, isso não é possível, e 1.300 (mil e trezentos) empregados acabam de ser demitidos sumariamente da Vale.
Com certeza o pobrezinho mesmo constrangido irá demitir muito mais, mesmo tendo condições de não o fazer, mesmo sendo a segunda maior do ramo e tendo capital de giro de sobra. Vai demitir o elo fraco da corrente dos gananciosos empresários – Os trabalhadores.
A grande pérola do presidente foi pedir ao governo federal que implante um regime de medidas de exceção para que os empresários consigam sair da crise. Em minha opinião, a CLT precisa mesmo de uma modernização urgente, mas isso não deve ser feito para atender interesses de riquinhos gananciosos que não fazem seus deveres de casa e agora querem passar a conta aos trabalhadores, lucro jamais, mas prejuízo pode ser socializado na visão “moderna” desses meninos mal acostumados com a vida.
Na visão de Roger Agnelli, seria um sonho poder demitir sem precisar pagar direitos, acabar com férias e décimo terceiro e lucrar ainda mais com a frágil situação dos trabalhadores brasileiros. Assim pensa o presidente da maior empresa privatizada no Brasil, que pena, nessas horas esperava muito mais de alguém com esse poder. Leve a sua bola para a casa Roger, não queremos mais brincar contigo também.

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