Seguidores

26 de maio de 2012

Onde você guarda seus olhos?

Recebi esta mensagem em minha caixa de e-mails, em meio a tantas outras, quem me enviou foi o grande amigo Rui Carvallio, pessoa amiga, sensível e muito querida. O texto de Rubens Alves é primoroso e cabe neste espaço com certeza absoluta. Pois aqui neste Blog cabem os meus e os teus olhos sempre!

Faz uns dias, eu fui para a cozinha, para fazer aquilo que já fizera a centenas de vezes: cortar cebolas! Ato banal sem surpresas. Mas cortada à cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz refletindo neles... Tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista. E o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora tudo o que vejo me causa espanto...
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica á física óptica de uma máquina fotográfica. O objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence á física.
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Uma mulher que vivia perto da minha casa, decretou a morte de um Ipê que florescia á frente de sua casa, porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza, só viam o lixo...
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem. "Não é bastante não ser cego para ver as arvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios". Escreveu Alberto Caeiro. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da Educação deveria ser a de "ensinar a ver".
O zen-budista concorda e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "Satori", a abertura do "terceiro olho", a terceira visão... Onde se pode ver a aura das pessoas, plantas e animais.
Então a diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário, mas é muito pouco, muito pobre...
Quando os olhos estão na caixa de brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que veem, olham pelo prazer de olhar...
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossos mestres.

Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".
Por isso _porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

Texto de Rubem Alves

23 de maio de 2012

Brasil ainda não chegou ao século XXI

"Você é livre para fazer suas escolhas,
mas é prisioneiro das consequências."
Pablo Neruda

Às vezes me pego pensando se realmente o nosso relógio do tempo está mesmo em sintonia com o restante do planeta. São algumas situações não tão pontuais, mas sim, recorrentes que me fazem sentir medo, preocupação com gerações futuras e na maioria das vezes vergonha de ser brasileiro.

Um cidadão entra numa aeronave para fazer um vôo regional no aeroporto de Confins em Minas Gerais e ao ver uma mulher como comandante do avião que o matuto iria fazer sua viagem, começa a gritar e diz que não viajaria enquanto não tirassem “aquela” mulher da cabine de comando.

Sim, ele não viajou mesmo, foi tirado pela segurança do Aeroporto e a aeronave seguiu seu voo tranquilamente sem que nenhum problema houvesse pelo fato de ter uma mulher ao seu comando. Da onde surgiu este ser Neandertal? Seria um fóssil vivo do século XVI? Último machista a gritar em defesa da sua espécie em extinção?

Uma boa parcela das mulheres brasileiras sofre preconceito profissional, tem salários inferiores aos praticados para com os empregados do sexo masculino e ainda são agredidas e mortas como se estivéssemos na idade média.

Outro fato que revolta e entristece a maioria dos brasileiros é o racismo que ainda sobrevive na vida do nosso país multirracial. Num bar no bairro paulistano do Brás, três rapazes e uma moça de Angola, conversavam até que alguns anencéfalos resolveram agredi-los verbalmente e depois fisicamente os jovens angolanos.

Eles foram chamados de “macacos” e outros adjetivos racistas, até que um deles sacou uma arma e atirou para matar a estudante inocente que estava com os rapazes.

Que intolerância racial é essa numa nação formada por negros africanos, brancos europeus, índios e asiáticos num arco-íris de rara beleza mundial? Que violência gratuita é esta que faz de uma mesa de bar um risco à vida? Quanta impunidade, ignorância e desperdício de vidas.

O Brasil precisa se reinventar a partir de seus erros e acertos, urgem que país invista recursos em educação de qualidade e punições rigorosas transformando as penas em espelhos de uma sociedade que não pode mais tolerar tanta agressão, violência e intolerância em seu seio.

15 de maio de 2012

Esperança no país – Artigo cada vez mais raro


“Conscientizar-se da própria ignorância
é um grande passo para aprender" Disraeli

Até outro dia lutávamos e achávamos que o câncer maior da nossa sociedade se restringia apenas a nossa classe política, tempos depois fomos percebendo que havia empresários inescrupulosos do outro lado da corrupção, favorecendo sua perpetuação (Corruptores).

Andando um pouco mais vimos que as entidades sindicais e estudantis, outrora forças democráticas e combativas, estavam sob o efeito sedativo de milhões de reais. Não havia mais caminhadas, greves nem protestos. Os partidos um a um foram caindo como um dominó gigante tocado de leve pela sombra da ética e da honestidade. Confiar em quem?

Restava-nos apenas e tão somente a Justiça, aquela que não havia vergado jamais e que resistirá a tempos difíceis em nosso país, ditadura Vargas, período da ditadura militar, desgovernos Collor e Sarney, etc. Enfim, era uma esperança.

Eis que aos poucos nossa sociedade está vendo diariamente que esta frágil esperança precisa ser tratada com ácido e muita lavagem química, pois está igualmente assim como os partidos políticos corroída pela corrupção, ganância e todo tipo de sujeira que assola nossa pátria e nos desqualifica como Nação perante o chamado Primeiro Mundo.

Nosso Supremo já nos causa asco, já não confiamos nas suas decisões e em seus magistrados, o povo é sempre o último, a saber, e com certeza vaga pelas ruas sem saber o que é STF ou STJ. Para a maioria que caminha por nossas ruas, são apenas siglas.

Porém, para a parcela que paga pesados tributos e tem o poder da informação e de ser formador através dela a situação é horrível, vemos no horizonte nuvens carregadas e densas pairando sobre aqueles edifícios que eram até tempos atrás habitados por grandes "Arautos" defensores da ética, da moral e da resistência jurídica de nosso povo.

Não consigo ver uma saída para um país governado por um bando de petralhas, cuja oposição chafurda na lama de cachoeiras e fontes de esgoto e cuja sociedade não tem respaldo da sua justiça que deveria ser soberana para colocar ordem e organizar o combate aos que contra as leis e a constituição se colocam como criminosos.

12 de maio de 2012

Discurso do Embaixador Guaicaípuro Cuatemoc

Um discurso feito pelo embaixador Guaicaípuro Cuatemoc, de descendência indígena, defendendo o pagamento da dívida externa do seu país, o México, embasbacou os principais chefes de Estado da Comunidade Européia. A conferência dos chefes de Estado da União Européia, Mercosul e Caribe, em maio de 2002 em Madri, viveu um momento revelador e surpreendente: Os chefes de Estado europeus ouviram perplexos e calados um discurso irônico, cáustico e de exatidão histórica que lhes fez Guaicaípuro Cuatemoc.
Eis o discurso:

"Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a "descobriram" só há 500 anos”. O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento - ao meu país - com juros, de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse. Outro irmão europeu me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu também posso reclamar pagamento de juros.

Consta no "Arquivo da Cia. das Índias Ocidentais" que, somente entre os anos 1503 e 1660, chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América. Teria sido isso um saque? Não acredito, porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao sétimo mandamento! Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão. Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas ou Arturo Uslar Pietri, que afirmam que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos tirados das Américas.

Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de tantos empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos. Prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.

Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano MARSHALL MONTEZUMA", para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, e de outras conquistas da civilização. Para celebrar o quinto centenário desse empréstimo, podemos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional responsável ou pelo menos produtivo desses fundos? Não. No aspecto estratégico, dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em navios invencíveis, em terceiros reichs e várias formas de extermínio mútuo.

No aspecto financeiro, foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros quanto independerem das rendas líquidas, das matérias-primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente, temos demorado todos estes séculos em cobrar.

Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros ao ano que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Limitar-nos-emos a exigir a devolução dos metais preciosos, acrescida de um módico juro de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.
Sobre esta base e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300, isso quer dizer um número para cuja expressão total será necessária expandir o planeta Terra.

Muito peso em ouro e prata... Quanto pesaria se calculado em sangue? Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para esses módicos juros, seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e a demência e irracionalidade dos conceitos capitalistas. Tais questões metafísicas, desde já, não inquietam a nós, índios da América. Porém, exigimos assinatura de uma carta de intenções que enquadre os povos devedores do Velho Continente e que os obriguem a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permitam entregar suas terras, como primeira prestação de dívida histórica...

Quando terminou seu discurso diante dos chefes de Estado da Comunidade Européia, o Cacique Guaicaípuro Guatemoc não sabia que estava expondo uma tese de Direito Internacional para determinar a Verdadeira Dívida Externa. Agora resta que algum Governo Latino-Americano tenha a dignidade e coragem suficiente para impor seus direitos perante os Tribunais Internacionais.
Os europeus teriam que pagar por toda a espoliação que aplicaram aos povos que aqui habitavam, com juros civilizados.

6 de maio de 2012

Por que não buscar exemplos lá fora?

Aqui no Brasil vários segmentos da nossa sociedade copiam com certa frequência coisas boas ou nem tanto que existem nos países ditos de primeiro mundo. A administração, engenharia, marketing, medicina, televisão principalmente vivem buscando exemplos bem sucedidos para aplicar no nosso país.

Existem duas exceções para isto no Brasil.

Uma delas é a nossa classe política que procura passar sempre ao largo dos exemplos de políticos no exterior, que atuam em prol do povo, ganham salários á altura dos serviços prestados à comunidade que os elege. E não possuem mordomias de quaisquer naturezas, sendo presos e condenados como qualquer cidadão comum se cometer crimes de corrupção.

A outra exceção fica por conta dos nossos governantes (também políticos) e demais autoridades dos três poderes constituídos que não copiam, não buscam alternativas para melhorar ou em alguns casos diminuir a imensa lacuna que existe entre àqueles países e o Brasil.

Copiar o quê? São muitos os exemplos, mas nossa gente bronzeada prefere enaltecer alguns programas e iniciativas tupiniquins do que efetivamente adentrar no mundo civilizado e com milhares de anos de experiência.

Justiça americana, inglesa ou japonesa. São inúmeros os exemplos de que nestes países os criminosos não fogem, não tem benesses nem regalias além das convencionadas pela ONU e organismos de direitos humanos.

Sequestradores, assassinos, terroristas são tratados de forma dura e idêntica pelos tribunais e presídios de segurança máxima dos países que se preocupam com a segurança de seu povo.

A pena de morte ou prisão perpétua pode ser discutida, porém não se pode permitir que o Congresso Nacional e a Justiça admita que praticantes de crimes hediondos sejam agraciados com redutores de penas, saidinhas e outras imoralidades exclusivas desta nossa Justiça ignóbil.

Outro detalhe importante, penas devem ser cumpridas e não termos uma situação onde 90 anos sejam transformados em 30 após o criminoso ser julgado e sentenciado por uma corte. A quem interessa ver nas ruas monstros como Nardeli, Suzana Richthofen e outros psicopatas?

Vou ficar apenas na justiça, entretanto administração pública, licitações e obras que não são superfaturadas, organizações de eventos, educação sem vestibulares e com qualidade, investimentos em pesquisas e ciências, polícia atuante e com utilização de alta tecnologia na repreensão ao crime e principalmente na apuração dos crimes.

Falta competência, interesse e, sobretudo inteligência por parte das nossas autoridades para saírem do lugar comum, terem visão de futuro e compreenderem que o poder deles passa, mas o legado de suas administrações será julgado por muitos anos.

O mal feito a nós (Miriam Leitão-06/05/2012)


Texto interessante para um reflexão de todos nós brasileiros!

Os escândalos passam pelo noticiário numa procissão infindável, uma cachoeira de escândalos. Tenebrosas transações vão surrupiando recursos públicos, esgarçando a confiança nas instituições, consolidando a sensação de que os políticos são assim mesmo; todos iguais. No ano passado foi um dominó que derrubou sete ministros e consumiu o ano inteiro. Este ano, a CPI que começa é outra que tem o nome de CPI do fim do mundo.
Onde é que estão os riscos e como entender essa avalanche? A imprensa é apenas a mensageira da notícia. Ela divulga. Não é a responsável pelo ambiente de cansaço e apreensão diante de tanto fato que ofende o país.
O problema alcançou uma dimensão que vai além do evento em si, vai além da política, e compromete ganhos importantes que o país conquistou nas últimas décadas. Cada evento tem que ser apurado, e seus responsáveis, punidos. Mas seria normal que a esta altura dos malfeitos houvesse algum temor entre os corruptos. Eles parecem, fita após fita, diálogo após diálogo, ter a mesma sem cerimônia, a mesma incorrigível desfaçatez.
Políticos com posições de destaque, com ambições ainda maiores, são capazes de exibições de espantosa falta de noção do conflito de interesses e dos limites que devem reger as relações entre o público e o privado. Se colocassem apenas as suas carreiras em risco, vá lá. Mas o perigo se abate também sobre políticas públicas que esses políticos colocaram em marcha, e para as quais contribuem pessoas e servidores sinceramente convencidos da sua qualidade.
Tudo isso desanima. Abate. Confunde. O brasileiro honesto diante de tanta recorrência pode achar que é assim mesmo, é da natureza da política. Pode considerar que o melhor é aderir a esse padrão moral nas suas próprias relações. Ou pode simplesmente se afastar de tudo, não querer mais perder tempo em entender tanto organograma dos esquemas criminosos, ouvir trechos de tantos diálogos tortuosos.
A generalização, a perda de valores, ou a alienação, qualquer dessas reações é perigosa para o país. A primeira vai minar o apoio à democracia, porque a conclusão pode ser: se todos os políticos são iguais, melhor não tê-los. A segunda porque ela tornará a corrupção endêmica, parte da cultura nacional. A terceira, essa do abandono do navio aos ratos, é a renúncia à busca de um país decente.
Um escândalo é apenas um escândalo. Todos eles juntos vão formando a cachoeira que pode nos arrastar para longe do objetivo que o Brasil tinha quando lutou suas lutas recentes.
Na conversa da redação, quando a equipe da Globonews preparava a reportagem sobre Rubens Paiva, nos demos conta de que a maioria dos brasileiros não tinha nascido quando o deputado foi preso e desapareceu em 1971. Fui verificar no IBGE, e o número era espantoso: 68% dos brasileiros têm menos de 41 anos. O Brasil tem uma população jovem. Isso é um bônus, mas o risco aumenta. Os que na minha geração entenderam a dor vivida pelo país durante a ditadura estão dispostos a tudo para manter o Congresso aberto. Mas e os jovens? Os que nada daquilo viveram? Até quando tolerarão a sequência de escândalos sem serem capturados por algum vendedor de poção mágica e autoritária para os males nacionais?
Na economia, a corrupção é devastadora. O que normalmente se tem em mente é o volume de recursos desviado dos cofres públicos através das estratagemas de sempre: empresas fantasmas que não prestam o serviço para o qual são pagas; sobre preço na compra de bens e serviços pelo governo; compras aprovadas por políticos e funcionários que receberam a sua parcela do dinheiro sujo; desperdício de obras inacabadas.
Há muitas outras perdas. As empresas fornecedoras do governo adotam normas de organização gerencial que promovam o funcionário que sabe o caminho, ou descaminhos, do cofre. Como o Estado é o grande comprador, se a má prática se dissemina, todos os milhares de fornecedores do Estado serão colocados em algum momento diante do dilema: aceitar ou não a regra vigente. Hoje, já se vê no Brasil o desdobramento disso, que é a corrupção nos negócios entre empresas privadas.
Grandes investidores podem considerar que o Brasil não é um país para o qual se deva ir. A corrupção de tão frequente pode estar neste momento desanimando alguma diretoria a tentar voos maiores para o Brasil. Ou então desembarcam com a orientação de adotar padrões éticos mais flexíveis para se adaptar à cultura local.
A democracia corre riscos evidentes a cada nova pancada que a opinião pública recebe. A economia vai se viciando, encontrando os atalhos, perdendo sua eficiência, atraindo apenas os piores, os que sabem se movimentar em ambiente tão degradado.
O Brasil tem sonhos altos e nesse momento tem mais confiança de que pode alcançá-los. Quer estar entre os primeiros países do mundo, mesmo sabendo que o sexto lugar em PIB só será efetivo quando houver o mesmo grau no desenvolvimento humano. Ninguém desconhece que há uma lista grande de tarefas por fazer. A dúvida é quanto do nosso destino está sendo diariamente sabotado pela corrupção no momento em que temos tantas chances.