A Revista “IstoÉ” número 2.426
trouxe uma matéria que nos permite comparar os governantes brasileiros com os
dos países desenvolvidos, pois estes administram os recursos públicos prezando
a relevância da obra, a tecnologia empregada e a execução rigorosa de orçamento.
As maiores autoridades de Suíça,
Alemanha, Itália e França foram, então, à inauguração do túnel de São Gotardo,
entre as cidades Erstfeld e Bodio, na região dos Alpes, porque ele contribuirá
para a melhoria na ligação longitudinal do continente, beneficiando 20 milhões
de europeus. Os suíços usaram modernas técnicas para viabilizar a ferrovia
dentro de uma montanha, ao longo de 57,1 km, com reduzido impacto ambiental. As
locomotivas de passageiros alcançarão velocidade de 250 km/h, e as de carga,
160 km/h. Houve magnífico cumprimento do orçamento e do cronograma, definidos
17 anos antes, respeitando os contribuintes, que terão retorno satisfatório aos
tributos recolhidos, pois viajarão com mais conforto e serão aquinhoados com os
avanços na economia.
Não temos a mesma experiência. O
Brasil está saturado por obras inacabadas, sonhos não realizados,
infraestrutura de péssima qualidade e escândalos sem fim quanto ao destino
criminoso dado às polpudas verbas alocadas para projetos comprometidos com
interesses paroquiais dos parlamentares. Soubemos, nos últimos tempos, como os
políticos aliam-se às empreiteiras para saquear os cofres públicos e garantir
para si a melhor porção do orçamento, entregando péssimas obras que não duram
uma chuva e, às vezes, desabam antes da inauguração.
A história das ferrovias brasileiras é
tragicômica porque o fracasso dos projetos é constante, embora elas sejam a
melhor opção para a mobilidade neste país de dimensão continental.
Em 1858, dom Pedro II inaugurou um
trecho de 48,21 km a partir do município da Corte, esperando que houvesse, em
poucos anos, integração nacional com ferrovias em diferentes sentidos. O
imperador teve oportunidade de ver o início das obras da Central do Brasil,
cuja proposta inicial era ligar o Rio de Janeiro a Belém do Pará, mas ela
terminou em Pirapora (MG), em 1910, e não se falou mais nisso.
A ferrovia Norte-Sul foi um projeto
lendário que iria ligar a Amazônia ao porto gaúcho do Rio Grande. Está
inacabada, sem previsão de recomeço, mesmo para a obtenção da insignificante
velocidade das locomotivas em 83 km/h.
A ferrovia do Aço foi um fracasso
retumbante porque nunca efetivou a ligação entre Belo Horizonte e São Paulo,
apesar do gasto de rios de dinheiro. O argumento principal eram as dificuldades
impostas pelo relevo, mas ele é muito maior nos Alpes da Europa.
A ferrovia Transnordestina seria
inaugurada em 2010, mas as bandalheiras foram tantas que apenas 56% das obras
estão prontas, e o TCU proibiu, recentemente, mais repasses de recursos
públicos até que se esclareça o que consumiu quase todo o orçamento com
resultado inexpressivo. Aumenta, assim, o fosso entre o Brasil e o mundo
moderno.
Fonte: Jornal O TEMPO
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